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"Advinha-me, esquenta-me com sua advinhação de mim" C.L.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Árdidas, sóbrias e verdadeiras palavras




Havia um garoto e havia um tuim, e havia ainda o imenso amor que o garoto tinha pelo tuim. Mas tuim é um bicho livre, um pequeno periquito que não sabe viver sozinho.

O garoto fazia de tudo para nunca perder o tuim, fechava as janelas da casa, andava com o tuim no dedo. Um dia o tuim escapou para o quintal e não voltou. Foi uma busca difícil e angustiante, até que o menino encontrou o tuim na casa de um vizinho.

Então o garoto resolveu cortar as asas do tuim, seria doído, mas seria mais doído para o menino ficar sem o seu tuim.

Um dia um gato pulou o muro e comeu o tuim.

Essa história não é minha, a minha história começa agora.

Eu não vou mentir, eu fiz de tudo para que vc estivesse sempre ao meu lado, eu procurei vc em todos os lugares, eu dei o melhor de mim, eu fui sincera e amiga, e te dei o papel da melhor da atriz.

E ainda assim, vc se foi, foi como o tuim que não queria ir embora, mas que precisava de outra pessoa, porque a ti meu coração n tinha serventia.

Talvez, esse tenha sido o golpe mais difícil dos meus dias, eu não estava preparada pra te ver partir. Seria hipocrisia da minha parte dizer que fui melhor que o menino, porque eu pensei, eu realmente pensei em ir atrás de vc e tirar-te as asas.

Eu pensei que talvez, se eu não te desse alternativa, vc ficaria cmg, e sonhei que seria feliz, que seríamos felizes.

Aí eu lembrei do seu sorriso, e do dia que vc ensaiou uma gargalhada fazendo uma brincadeira, um dia em que eu estava deitada no seu colo, na sua casa. E a cena do seu riso espontâneo, feliz, de quem realmente sentia-se bem, veio de encontro à imagem do tuim, cortado, sangrando, sem asas, e eu pensei no gato e em como ele não havia hesitado nem por um instante em comer o tuim.

Então eu chorei as mais tristes e libertadoras lágrimas da minha vida. Eu chorei pensando que, se não houvesse mais o seu sorriso, se a imagem do seu sorriso fosse substituída pela imagem da tua angustia diante da ausência da tua amiga, então haveria o gato de ter te comido. Mais do que isso, eu seria o garoto egoísta e, a tristeza, o gato, que impiedosamente haveria de te consumir.

E de repente, dei-me conta do amor, do imenso amor que nunca haverá de morrer dentro de mim, do imenso amor que me mataria se eu não tivesse a recordação doce da sua presença, do amor incapaz de te fazer infeliz.

Por isso eu te liguei, e conversamos, foi então que descobrimos o que havia acontecido no tempo em que me privei da sua presença. Foi então que trocamos elogios, lembranças, que rimos de coisas bobas.

Foi então que eu disse segura, com a mais engasgada garganta e com as mais árdidas, sóbrias e verdadeiras palavras que, se vc estivesse feliz, eu haveria de estar, porque nada nessa vida poderia ser mais bonito do que lembrar de vc sorrindo.

E quanto a mim...eu haverei de aprender muito com os tuins.




Ana C. Fernandes.

3 comentários:

Tatinha Rodrigues disse...

"... do amor incapaz de te fazer infeliz. "

Queria pensar como você, queria ser feliz apenas vendo o outro feliz. Mas não consigo, me dói muito saber que uma outra pessoa o faz feliz e tem tudo que eu sempre quis para mim. Não há explicação, dói demais.

Marcus Pantaleão disse...

Céus, que lamento bonito...

Porque às vezes a dor do outro parece tocar funo na nossa.

Ana C. Fernandes disse...

Porque as vezes a dor do outro é a nossa...