
Havia um garoto e havia um tuim, e havia ainda o imenso amor que o garoto tinha pelo tuim. Mas tuim é um bicho livre, um pequeno periquito que não sabe viver sozinho.
O garoto fazia de tudo para nunca perder o tuim, fechava as janelas da casa, andava com o tuim no dedo. Um dia o tuim escapou para o quintal e não voltou. Foi uma busca difícil e angustiante, até que o menino encontrou o tuim na casa de um vizinho.
Então o garoto resolveu cortar as asas do tuim, seria doído, mas seria mais doído para o menino ficar sem o seu tuim.
Um dia um gato pulou o muro e comeu o tuim.
Essa história não é minha, a minha história começa agora.
Eu não vou mentir, eu fiz de tudo para que vc estivesse sempre ao meu lado, eu procurei vc em todos os lugares, eu dei o melhor de mim, eu fui sincera e amiga, e te dei o papel da melhor da atriz.
E ainda assim, vc se foi, foi como o tuim que não queria ir embora, mas que precisava de outra pessoa, porque a ti meu coração n tinha serventia.
Talvez, esse tenha sido o golpe mais difícil dos meus dias, eu não estava preparada pra te ver partir. Seria hipocrisia da minha parte dizer que fui melhor que o menino, porque eu pensei, eu realmente pensei em ir atrás de vc e tirar-te as asas.
Eu pensei que talvez, se eu não te desse alternativa, vc ficaria cmg, e sonhei que seria feliz, que seríamos felizes.
Aí eu lembrei do seu sorriso, e do dia que vc ensaiou uma gargalhada fazendo uma brincadeira, um dia em que eu estava deitada no seu colo, na sua casa. E a cena do seu riso espontâneo, feliz, de quem realmente sentia-se bem, veio de encontro à imagem do tuim, cortado, sangrando, sem asas, e eu pensei no gato e em como ele não havia hesitado nem por um instante em comer o tuim.
Então eu chorei as mais tristes e libertadoras lágrimas da minha vida. Eu chorei pensando que, se não houvesse mais o seu sorriso, se a imagem do seu sorriso fosse substituída pela imagem da tua angustia diante da ausência da tua amiga, então haveria o gato de ter te comido. Mais do que isso, eu seria o garoto egoísta e, a tristeza, o gato, que impiedosamente haveria de te consumir.
E de repente, dei-me conta do amor, do imenso amor que nunca haverá de morrer dentro de mim, do imenso amor que me mataria se eu não tivesse a recordação doce da sua presença, do amor incapaz de te fazer infeliz.
Por isso eu te liguei, e conversamos, foi então que descobrimos o que havia acontecido no tempo em que me privei da sua presença. Foi então que trocamos elogios, lembranças, que rimos de coisas bobas.
Foi então que eu disse segura, com a mais engasgada garganta e com as mais árdidas, sóbrias e verdadeiras palavras que, se vc estivesse feliz, eu haveria de estar, porque nada nessa vida poderia ser mais bonito do que lembrar de vc sorrindo.
E quanto a mim...eu haverei de aprender muito com os tuins.
Ana C. Fernandes.
3 comentários:
"... do amor incapaz de te fazer infeliz. "
Queria pensar como você, queria ser feliz apenas vendo o outro feliz. Mas não consigo, me dói muito saber que uma outra pessoa o faz feliz e tem tudo que eu sempre quis para mim. Não há explicação, dói demais.
Céus, que lamento bonito...
Porque às vezes a dor do outro parece tocar funo na nossa.
Porque as vezes a dor do outro é a nossa...
Postar um comentário