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"Advinha-me, esquenta-me com sua advinhação de mim" C.L.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Apenas um Prefácio

Lamento nunca ter escrito um diário. Sempre achei que diários eram tolice, mas percebo agora que, se eu tivesse um em minhas mãos, seria de grande ajuda. Diários descrevem o seu dia, eu sempre quis mais, não digo mais que um dia, digo mais do que se pode escrever sobre o dia. Nem sempre pode tratar-se do dia como uma marcação de tempo, há mais em único dia do que os segundos poderiam contar, entre um segundo e outro, pode haver a imensidão de toda uma vida ou a percepção de que nada foi essa vida. Não sei por que falo dos dias, talvez eu nem percebesse os dias, às vezes tenho a impressão que passei pela vida escondida dos dias, presa numa espécie absurda de bolha de pensamentos ridículos ou torturantes. Porém desejo mais do que nunca dar um salto, queria pular para vida, ou seria da vida? Ainda não sei, mas não posso pular daqui, li em algum lugar que não se pode ir tão adiante sem voltar um pouco, é preciso dar uns passos para traz a fim de conseguir o impulso necessário para dar um pulo. Por isso estou tentando voltar, saber ao certo como cheguei até aqui, mas não me lembro de tudo e não tenho tantas certezas, não sei exatamente em que ponto começa a minha história e a história da minha vida, se ficção e fato se misturarem aqui não me julguem mal, é que talvez minhas maiores verdades não tenham sido vividas ou eu tenha vivido verdades tão sombrias que acreditei não tê-las vivido. Se minha mente conseguisse lembrar porque eu insisto em escrever talvez eu pudesse parar por aqui e não torturasse vocês com tantos pensamentos vagos, mas não há razão nenhuma a não ser esse imenso fogaréu que me consome por dentro as palavras que, de tão sufocadas, saem como fumaça das minhas mãos. Tenho a sensação de que as vezes não escrevo por mim, as vezes as palavras que solto formam frases que não poderiam fazer sentido se algum sentido eu procurar na minha vida, sei que há um sentido em minha vida, e abusando dessa palavra, tenho sentido muito esse sentido nos últimos dias, mas não vejo porque ele me conduz a escrever. Às vezes penso que as palavras precisam sair pra eu respirar, mas a verdade, se é que a verdade poderia sair de mim, é que me alimento das palavras que escrevo, vivo porque elas me mantêm viva, ou talvez não vivo porque elas me alimentam a inexistência. Mas pra mim, tanto faz, há vida na inexistência, há um imenso e aconchegante não ser humano que me conforta e me aquieta. Há um não ser humano extremamente prazeroso na imensidão da inexistência, que de forma alguma é a morte. A inexistência que digo é um estado de alma em que as coisas ao seu redor não mais lhe afligem, nem te tocam, nem te fazem chorar ou sorrir, é um momento único em que se pode deixar de ser o personagem e ser o observador da vida, e então pode-se ver a felicidade em câmera lenta e as pessoas que passam por vc, pode se olhar o que elas falam com a alma porque vc não vê que está tão perto dessa pessoa, olhando-a nos olhos, de uma forma que sobriamente ninguém ousaria. Enfim, a inexistência pode ser repleta de vida e boas recordações, talvez tenha sido na inexistência que eu tomei consciência de que se eu não tornasse tudo isso uma verdade escrita, e verdade apenas porque tangível, não porque não seja mentira, o que não implica em dizer que as coisas não tangíveis não sejam verdades, até porque acredito que minhas maiores verdades nunca poderão ser tangíveis, eu não poderia prosseguir, não há como prosseguir se eu não voltar, estou tentando voltar, porém temo em me perder no caminho, assim como se perderam João e Maria, mas João e Maria se perderam num conto de fadas e não em suas próprias vidas, o que me alivia bastante, ou me apavora muito, porque quem sabe, temendo a verdade, eu tenha entrado num mundo de fantasias.